sexta-feira, 22 de junho de 2012

A beleza inefável da Arte Sacra de Cuzco

Arte Cusquenha: Maria Santíssima e o menino Jesus.

Se existe uma venerável arte sacra cuja contemplação eleva a alma do Católico aos píncaros da fé, tal arte poderia ser apontada como a Arte Sacra Cusquenha. Caracterizada por traços suaves, tonalidades vivas e augusta beleza das indumentárias, de modo que ao mesmo tempo exala em suas matizes cândidas nuances de uma linha artística realmente voltada à Deus, a Arte Católica Cusquenha é muito especial em diversos ângulos.


São José em Arte Cusquenha - Artista
deconhecido
Advinda dos habitantes recém-convertidos de Cusco (Peru, ainda na época da colonização espanhola do até então Império Inca), sua beleza não somente provém da mistura do Flamengo com o Bizantino, mas deriva de uma característica que é perceptível ao mais ignorante apreciador de obras: a tenacidade na representação propriamente indígena e o fausto assaz das obras que imprimem toda veneração que se pode conceder ao âmbito religioso.

Não é à toa que até o presente momento muito se retrate esta arte envolta de sacralidade; seja porque sua representação explore a mais profunda vivacidade que uma pintura pode alcançar, ou ainda, pelo fato de que a aproximação com o real ultrapasse o material e nos leve a admirar a santidade retratada em pinceladas, trazendo-nos pela mesma admiração uma fé espontânea que pode até ser para nós desconhecida em um primeiro momento, não deixando por isso de ser agradável e afável. Por isso, pode-se dizer que esta é a arte sacra das Américas por excelência; a arte que enaltece a santidade e serve de meio para uma adoração mais perfeita à Santíssima Trindade.

José e Jesus, c. 1700
A Arte Cusquenha nasce de uma escola que leva o nome da região em que a mesma estava situada - Escola de Cuzco -.  Tal instituição, criada pela Companhia de Jesus (Societas Iesu, S. J) e continuada após a supressão da Ordem, possui alguns pilares quando da disponibilização do estudo de artes para os indígenas: 1º - O aproveitamento na fé, objetivando-se o ensino artístico a fim de absolver mais almas para a Santa Fé e salva-las; 2º - Dignificação dos índios, algo que poderia ser realizado por meio da demonstração aos Europeus de que a capacidade dos mesmos no campo artístico era excelsa, tal qual nas artes dos cânticos e da fé; 3º - Produção de um novo estilo que se adaptasse ao cotidiano indígena, algo necessário para aproximar a piedade cristã da realidade indígena e etc. Em resumo, sem dúvidas se fazia necessário tais aportes realizados pela Companhia de Jesus, não somente a fim de evitar a escravização indígena - algo buscado nas reduções que se espalharam na América do Sul -, mas também para a conversão dos povos que embora possuíssem senso religiosos extra-ordinário, ainda direcionavam sua fé para deuses pagãos.
O propósito primário desta produção era didático. Os espanhóis, desejando converter os Incas ao Catolicismo, enviaram para a região missionários com o objetivo de lhes ensinar a religião através da arte. Fundaram-se então oficinas onde os padres lhes ensinaram a pintar, sendo esse núcleo considerado o primeiro centro artístico organizado das Américas. Logo seu estilo se expandiu para outros centros coloniais da Bolívia e Equador.¹
Detalhe de rara pintura, onde se vê a figura de Cristo
repetida por 3 vezes, representando a Santíssima
Trindade na coroação de Maria - século XVI -
coleção particular - Rio de Janeiro.
A Escola frutificou tal qual o joio (não indico no sentido pejorativo, mas tomo este exemplo para demonstrar a disseminação da Arte Sacra em campos silvícolas) relatado por Nosso Senhor Jesus Cristo - que penetra nos campos e searas alheias e se torna inextinguível -. Suas produções são verdadeiramente demonstrativas do quanto a fé cristã pode mobilizar uma sociedade em favor de causas santas e dignas. 

Várias obras se tornaram famosas em união com seus artistas, podendo-se apontar os principais nomes que pululavam desta Escola: Bernado Bitti (Italiano, um dos primeiros introdutores da arte em territórios cusquenhos), Luis de Riaño (Grande consolidador da arte), Diego Cusihuamán, Diego Quispe Tito, Basilio Santa Cruz Puma Callao, Marcos Zapata e Marcos Retira.

O que ratifica de maneira plena a riqueza desta confluência de artes, impoluta, ao contrário das artes que nasciam em território outro (artes renascentistas da Europa, contaminadas por pornografias e naturismo), é a fecundidade visível nas obras deixadas pelos artistas de maior quilate. E um dos redutos de tais obras está localizado na própria cidade originaria - Cuzco - cuja Catedral é coroada com verdadeiras obras de artes como A Coroação das Virgens e A Virgem das aves.


Virgem do Carmelo
Neste momento, afim de preencher o hiato relativo aos períodos da Escola, têm-se esta cronologia: As primeiras oficinas foram fundadas em 1583 com a vinda do supracitado pintor Bernado Bitti, mais tarde aprimoradas com outro grande expoente: Luis de Riaño, continuador da obra. Já em 1688 ocorre uma fissão ou divisão no ulterior da Escola, dado que o anseio pela originalidade produziu uma divisão entre os que seguiam uma corrente mais concentrada em traços Europeus e outra que preferia uma estrutura artística voltada para um teor mais indígena; não deixando, ainda assim, de produzir excelentes frutos como a série artística Corpus Christi, com várias telas de inigualáveis nuances e matizes².

E embora não fosse um fim direto, logo se tornou um dos objetivos da produção artística de Cusco a via econômica. Isto porque a conseqüência de tamanha beleza dos quadros fora o aumento na demanda da produção, natural no que toca às artes sacras; produzindo-se, inclusive, em Mosteiros e Abadias para o próprio sustento das mesmas. E é por meio de tal arte que a cidade de Cuzco até os tempos hodiernos consegue manter parte da população católica, algo iniciado a partir do Sec. XVII³ e que se tornou tradicional na cultura andina. 

Nossa Senhora ao Centro, Jesuíta à direita
e S. Sebastião à Esquerda. 
Particularmente a arte se concentrava na Hierarquia Angelical, representando em diversas obras os Arcanjos e os demais anjos, e também nos santos de maior popularidade entre os neo-cristãos e os colonizadores espanhóis, tal qual alguns Títulos Marianos e santos de especial devoção, como São José. Todavia, uma das principais marcas desta arte é a representação comum de Maria com o menino Jesus, que - descrevendo de maneira abrangente - traz sempre uma beleza singular não encontrada em outras representações sacras. Pode-se, pois, aferir que tal sensibilidade é uma herança indígena que ricamente purpura a citada vertente Cusquenha, herança esta que atribui especial devoção à imagem binária que tanto ocupa as orações católicas: Jesus e Maria.

Esta é a importância da Arte Cusquenha, tanto cultural como econômica; sustentado várias famílias católicas e enriquecendo nossa religiosidade com belos quadros e afrescos cujas notas nos remetem diretamente à algo celestial e majestoso que ultrapassa nossa miserável realidade de pecados.

Calvário, século XVIII. Acervo Artístico-Cultural
dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo
________

¹ - Vide artigo completo em Wikipédia (Acessado em 10 Março de 2011): http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Cuzco
² - Informações detalhadas em Wikipédia em Espanhol (Acessado em 10 março de 2011): http://es.wikipedia.org/wiki/Escuela_cuzque%C3%B1a_de_pintura
³ - Ibid.

Trecho extraído do site do Apostolado Católico Arauto da Verdade©, disponível no link: http://www.arautoveritatis.com/2011/03/beleza-inefavel-da-arte-sacra-de-cusco.html#ixzz1yTI4FJAJ
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