sexta-feira, 8 de junho de 2012

História emparedada no convento de Santo Antônio



O convento de Santo Antônio: novas descobertas O Globo / Marcos Tristão
 Durante restauração, arquitetos encontram os mais antigos confessionários do país
 
 
RIO - Além de devolverem à cidade um importante bem tombado, as obras de restauração do conjunto do Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca, estão revelando preciosidades arquitetônicas. Durante a prospecção da nave da igreja, arquitetos que trabalham na terceira fase das intervenções encontraram atrás da parede três antigos confessionários que datam da época da conclusão da construção (1628) e haviam sido cobertos por concreto numa das muitas reformas feitas no templo. Segundo os responsáveis pelo projeto, trata-se dos confessionários mais antigos do Brasil, já que, até então, só havia registro de peças semelhantes no Convento de Santa Teresa D’Ávila, em Salvador. As descobertas vão além: as equipes também acharam dois coruchéus (remate de uma coluna em forma de pirâmide) e o óculo (abertura para a entrada de luz) original da fachada, que permitirão a reconstituição do formato do antigo frontão do período colonial. Um painel com uma simulação de como ficará a nova (antiga) fachada foi colocado na frente da igreja.— Havia quatro confessionários na igreja que foram feitos na própria alvenaria, integrados ao muro. Isso nos permite dizer que são do século XVII. Até então, os mais antigos eram os do Convento de Santa Teresa D’Ávila, do século XVIII — conta o arquiteto Olínio Coelho, responsável pelo projeto de restauração arquitetônica. — Uma peça foi destruída com a abertura de uma parede para o convento. Encontramos os três restantes.

Um dos confessionários foi achado quando a equipe retirou o púlpito para restauração. Dentro do óculo, outro achado: partes de uma das esferas que ficavam sobre os coruchéus tinham sido usadas como enchimento. Com base no que restou da peça, explicam os especialistas, será possível calcular o raio da esfera e fazer uma réplica.
— Na entrada, encontramos ainda dois dos arcos que compunham a fachada original e um grande arco no lado esquerdo que era da galilé, espécie de varanda que fazia transição entre as áreas externa e interna da igreja. Com essas descobertas, poderemos devolver a fachada que a igreja tinha quando sua obra foi concluída, em 1628 — diz Felipe Borel, um dos arquitetos do projeto de restauração.

Segundo os responsáveis pela restauração, a maioria das reformas do prédio ocorreu no começo do século XIX. E muitas descaracterizaram a construção. O telhado do convento, por exemplo, foi elevado em cerca de um metro para receber as novas telhas, para garantir maior caimento.
Nas obras do convento também houve descobertas importantes na restauração das cinco capelas do período barroco, já em fase de conclusão. A retirada de várias camadas de tinta revelou tons de dourado, efeitos marmorizados e pinturas raras. Misturadas a imagens de madeira, foram encontradas peças de terracota, do início do século XVII, como as que retratam o nascimento e a morte de São Francisco.
— Somente na restauração das capelas levamos um ano. E ainda vamos finalizar uma delas. No altar-mor, a equipe de restauradores está neste momento devolvendo o brilho aos entalhes de madeira com folhas de ouro e aos portais, de lioz. Os trabalhos de restauração da igreja devem durar ainda dois anos — explica Felipe.

Dividida em quatro fases, as obras foram iniciadas em 2007. Esta terceira fase será concluída em 2014 e prevê a restauração da nave, do claustro, das celas e das capelas. Esta etapa está sendo feita pelo Centro de Projetos Culturais (Cepac), em parceria com o Iphan. Na quarta fase, serão restaurados o cemitério, os jardins e as lojas. As obras incluem a troca dos dois elevadores antigos e a instalação de mais dois elevadores panorâmicos. Até agora, já foram gastos R$ 19 milhões. Ao todo, a restauração custará R$ 45 milhões. O projeto é patrocinado por Vale, BNDES, Petrobras, Grupo Multiplan, Icatu Holding e ABC/Africa Publicidade.

Tombada pelo Iphan desde 1938, a construção completou 404 anos do lançamento de sua pedra fundamental (feito em 1608) no dia 4 deste mês. O historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti lembra que o convento abrigou um importante centro educacional no século XVIII. E que a chegada dos franciscanos revitalizou aquele pedaço da cidade:

— Quando aceitaram se instalar naquele morro, os franciscanos fizeram uma exigência: que fossem feitas melhorias no entorno e aberta uma rua (hoje São José) do morro até a orla.
Mesmo em obras, a igreja continua aberta: as missas foram transferidas para uma sala no convento e, partir do dia 13, haverá visitas guiadas (é preciso marcar pelo telefone 2210-5356).

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