terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Arte Medieval - Arte Gótica (Escultura)

A escultura gótica afirmou-se na arte da Idade Média no séc. XIII, evoluindo a partir da escultura românica. Intrinsecamente ligada à arquitectura, como até aqui, fez parte da decoração interior e exterior das grandes catedrais góticas e também de baptistérios e palácios.


Nicola Pisano, Púlpito do Baptistério de Pisa, e detalhe da Natividade e da Adoração dos Reis Magos, respectivamente, 1260. Mármore.


Giovanni Pisano, Púlpito da Catedral de Pisa, e detalhe da Natividade e da Crucificação, 1302-10. Mármore.


Claus Sluter, Poço de Moisés, Catedral de Dijon, c. 1395. Mármore.


No Gótico Inicial as estátuas mostram ainda uma forma alongada e rigidez na posição, embora se comecem a distinguir do estilo Românico pelos rostos cada vez mais individualizados e pormenorizados, que denotam calma e serenidade.
Figuras da ombreira esquerda da entrada principal do portal real da Catedral de Notre-Dame, Paris, França.


Esculturas do Portal dos Reis da Catedral de Notre Dame de Chartres, França, c. 1145-1155.


Tímpanos do Portal duplo do transepto sul da Catedral de Estrasburgo: A Morte de Maria e A Coroação de Maria, respectivamente, c. 1235.



Esculturas do Portal norte da fachada ocidental da Catedral de Estrasburgo



Cristo e as Virgens Prudentes, Catedral de Estrasburgo, c. 1280-1300.


Andrea Pisano e Giotto, Relevos da Catedral de Florença, c. 1334-37


Virgem e o Menino, escultura do mainel do Portal Ocidental central da Catedral de Notre-Dame, c. 1210. Paris.


Coro de São Jorge da Catedral de São Pedro, Bamberg. Vista geral e pormenor da "Igreja" e da "Sinagoga", respectivamente, c. 1225-37


Virgem e o Menino, escultura do mainel do Portal Ocidental central da Catedral de Notre Dame de Reims, após 1252.


 Quatro das cinco Virgens Prudentes da ombreira do Portal Paradisíaco da Catedral de Magdeburgo, Alemanha, c. 1245.

Quatro das cinco Virgens Imprudentes da ombreira do Portal Paradisíaco da Catedral de Magdeburgo, Alemanha, c. 1245.


À medida que se aproxima o Gótico Pleno, surge uma tendência mais naturalista e realista. Os corpos apresentam um maior volume e posições ligeiramente mais curvilíneas. 
A partir do séc. XIV as figuras denotam um "S" sinuoso, quase em contraposto (posição assimétrica e obliqua do corpo em relação ao seu eixo: o tronco roda para um lado e as pernas para outro, formando um "S") e os panejamentos (roupagem) apresentam linhas arredondadas, sobrepostas e profundas, que acentuam a forma dos corpos e o requebro das ancas e contribuem para um crescente realismo


Virgem e o Menino, estátua do interior da Catedral de Notre-Dame, Paris


Cavaleiro, Catedral de São Pedro, Bamberg, Alemanha, c. 1235


Virgem da Visitação, Catedral de São Pedro, Bamberg, Alemanha, c. 1240


Cavaleiro do Antigo Mercado (Imperador Otão I ?), c. 1245/50


Detalhe com Anunciação e Visitação do Pórtico ocidental da Catedral de Notre Dame de Reims, 1252-1275.


A expressão formal procura exprimir a perfeição espiritual e por isso as figuras são tratadas com maior correcção anatómica e detalhe
Os santos, a Virgem e Cristo têm outra mensagem, reflectindo mais verdade, sensibilidade, serenidade e ternura - humanização do Céu
As figuras possuem gestos humanizados, proporcionalidade, naturalismograciosidade, liberdade de traçado, de modelado e de composição, e transmitem uma mensagem de doçura, beleza e desejo de viver. 
Porém, a partir do final do séc. XIV, a expressividade estimulada pela crise religiosa, revela-se na representação do homem, dos santos e do próprio Cristo, que denotam um sofrimento exagerado nos rostos e nos corpos esquálidos (esqueléticos), despertando a piedade dos fiéis.


Nossa Senhora, a Branca, escultura do Portal Central ocidental da Catedral de Léon, Espanha, c. 1250-1300.


Nino Pisano (?), Virgem com o Menino, c. 1343-47. Mármore.


Madonna de Krummau, Viena, c. 1400. Cálcário pintado.




Virgem da Sainte-Chapelle, Paris, Séc. XIV


Representação do Inferno no Portal central da fachada ocidental da Catedral de Orvieto, Itália, c. 1310

A escultura gótica dividiu-se em três tipologias:

  • A escultura decorativa/monumental, que se encontra principalmente nas fachadas e portais e que, juntamente com outros elementos variados (pináculos, rosáceas, agulhas, gárgulas, vitrais...), caracteriza o exterior das igrejas, onde o "horror ao vazio" é extremamente notório. As cenas mais representadas são: Cristo em Majestade, O Último Julgamento ou Juízo Final, a vida da Virgem (cuja representação se tornou mais frequente pela valorização do papel da mulher como mãe e educadora, em que a Igreja se empenhou no final da Idade Média) e o Nascimento de Cristo e episódios da vida de santos. O trabalho escultural era feito em oficinas e posteriormente colocado nos lugares destinados. Todas as esculturas eram coloridas. As cores usadas eram as convencionais (o rosto e as mãos tinham a cor natural, os cabelos eram loiros e as vestes policromas) e tinham uma função decorativa, estética, apelativa e simbólica. São também de salientar os relevos escultóricos feitos com grande minúcia e perfeccionismo. 
 Portal do transepto norte da Catedral de Notre Dame de Chartres, e pormenor do tímpano com O Triunfo da Virgem


Figuras da ombreira esquerda e direita, respectivamente, do Portal do transepto norte da Catedral de Notre Dame de Chartres


Portais da fachada do transepto sul da Catedral de Notre Dame de Chartes e pormenor do tímpano central com O Juízo Final

Portal dos Reis da Catedral de Notre Dame de Chartres, e pormenor dos tímpanos. França, c. 1145-1155.


Portal Ocidental da Catedral de Notre Dame de Senlis e pormenor do tímpano. França, c. 1170.


Figuras da ombreira esquerda do Portal Ocidental da Catedral de Notre Dame de Senlis


Figuras da ombreira direita do Portal Ocidental da Catedral de Notre Dame de Senlis


Tímpano do Portal Central da Fachada Ocidental da Catedral Notre Dame de Laon, França, c. 1200.


Portal dos Leões, Catedral de Toledo, Espanha, c. 1200-1300 




Portal do Perdão, Catedral de Toledo, Espanha, c. 1200-1300




 Portal Ocidental da Catedral de Notre-Dame e pormenor do tímpano com a Coroação da Virgem. Paris, França, c. 1210.

Portal do transepto sul (Porta do Sarmental) da Catedral de Burgos, Espanha, c. 1223-1260.


Portal dos Príncipes da Catedral de São Pedro, Bamberg e detalhe da ombreira esquerda e do tímpano com o Juízo Final. Alemanha, c. 1225-1237.



Portal da Graça da Catedral de São Pedro, Bamberg, e detalhe do tímpano


Portal da fachada ocidental da Catedral de Estrasburgo e pormenor da porta, c. 1235

Portal do transepto norte (Portal Saint-Laurent) da Catedral de Estrasburgo


Portal duplo do transepto sul da Catedral de Estrasburgo: vista geral e pormenor das figuras da "Igreja" e da "Sinagoga", respectivamente.


Portal esquerdo do transepto norte da Catedral de Notre Dame de Reims


Portal ocidental central da Catedral de Notre Dame de Reims, após 1252


Portal do Claustro (transepto sul, parede oriental) no interior da Catedral de Burgos, Espanha, c. 1265-70


Maestro Bartomeu, detalhe do Portal da Catedral de Tarragona, Espanha, c. 1277-1282.


Portal sul da Catedral de Santa Maria de Villalcázar de Sirga, Espanha, finais do séc. XIII.


Tímpano do Portal do transepto sul (Portail de la Calende) da Catedral de Notre Dame de Rouen (ou Catedral de Ruão), França, c. 1300.


Esculturas da fachada ocidental da Catedral de Orvieto, Itália, c. 1310




Lorenzo Maitani, Relevos escultóricos da fachada ocidental da Catedral de Orvieto, c. 1320-30






Andrea Pisano, Porta de bronze do Portal sul do Baptistério de Florença, concluída em 1336: vista geral e alguns pormenores.


Claus Sluter, Portal da Catedral de Dijon, Cartuxa de Champmol, 1389-1406


Gárgulas da Catedral de Notre-Dame, Paris, França.



Gárgulas da Catedral de Notre Dame de Senlis, França.


Gárgulas da Catedral de Laon, França.


Gárgula da Catedral de Notre Dame de Reims, França.



Gárgulas da Catedral de Estrasburgo, Alemanha.



Bartolomeo Buon, Porta della Carta, Palácio dos Doges, Veneza, 1438-42.


  • Devido ás pestes, ás fomes, guerras e à falta de condições de higiene e da qualidade de vida, no geral, a taxa de mortalidade era muito elevada. Como o enterro de nobres nas igrejas era uma tradição, desenvolveu-se a escultura tumular, que se vulgarizou na construção de estátuas jacentes. No início, estas estátuas não continham pormenores dos traços físicos do morto, apenas procuravam evocar o defunto. Em meados do séc. XIII aparece o retrato idealizado, com um leve sorriso que ilumina o rosto do defunto, que procura mostrar a paz com que devemos enfrentar a morte e a mesma que devemos levar para o descanso eterno. A partir do séc. XIV, o morto é representado muitas vezes de forma mórbida, enregelado, envolto num lençol ou nu, um autêntico cadáver em decomposição, na sequência dos horrores da Peste Negra e da consciencialização da nossa condição mortal - "do pó viemos e ao pó voltaremos".
Túmulo do Papa Bonifácio VIII, séc. XIII


Túmulo do Rei Dagobert I, séc. XIII, Abadia de Saint-Denis, França.



Estátuas jacentes de Ricardo, Coração de Leão, e a sua esposa, primeiro quartel do séc. XIII. Igreja da Abadia de Fontevrault.


Túmulo do Rei João Sem-Terra, vista geral e detalhe da cabeça, c. 1225, Catedral de Worcester. Mármore de Purbeck.


Lápide Tumular do Arcebispo Siegfried III von Epstein, após 1249. Catedral de São Martinho e Santo Estevão, Mogúncia.


Arnolfo di Cambio, Túmulo do Cardeal Braye, Igreja de San Domenico, Orvieto. Mármore, c. 1282


William Torel, Túmulos de Henrique III e Leonor de Castela, respectivamente, 1291. Bronze dourado.


Túmulo do Cavaleiro Robert Curthose, vista geral e pormenor da cabeça, último quartel do séc. XIII, Catedral de Gloucester. Madeira de carvalho pintada.


Tino di Camaino, Túmulo de Catarina da Áustria, mármore, 1323. Basílica de San Lorenzo Maggiore, Nápoles.


Bonino da Campione, Monumento fúnebre de Bernabó Visconti, 1323-85. Mármore.


Sarcófago de St. Eulália, Catedral de Barcelona, 1327-39. Mármore.


Túmulo de Eduardo II e detalhe, c 1330-1335, Catedral de Gloucester. Mármore e alabastro.


Giovanni di Balduccio, Cripta de São Pedro mártir, 1335-39. Mármore.


Túmulo do "Cavaleiro Negro", e pormenor da cabeça, c. 1337/80. Catedral de Canterbury.


Claus Sluter, Túmulo de Felipe, o Audaz e detalhe, c. 1390-1406. Alabastro e mármore.


  • Esculturas em madeira, que apenas surgiram na segunda metade do século XIII, através dos escultores que, organizados em corporações, começaram a entalhar cada vez mais figuras em madeira. Desta forma, a escultura libertou-se da arquitectura e tornou-se uma obra artística autónoma, característica que lhe permitiu adaptar-se à mudança das necessidades religiosas; devido à forma como as esculturas eram representadas exerciam também influência sobre a prática religiosa dos crentes. Assim, surgiram inúmeros tipos de imagens e temas, que, na grande maioria, tematizavam o sofrimento de Cristo e que deveriam sensibilizar o observador, levando-o a uma identificação emocional e a uma veneração religiosa.
Maria Chorando, madeira


Virgem em cima do Trono Largo, c. 1270. Carvalho policromado.


Pietà da Renânia (ou de Roettgen), c. 1300. Madeira de tília pintada.


Grupo de Cristo com São João de Sigmarigen, c. 1330. Madeira de carvalho dourada e colorida.


Virgem do Friesentor de Colónia, c. 1370. Madeira de nogueira dourada e pintada.


Pietà Krïvákova, c. 1390. Madeira pintada.


Pietà, Catedral de Freiberg, inícios do séc. XV. Madeira pintada.


Hans Multscher, Relevo da Trindade do Castelo Sandizell, c. 1430. Alabastro, em parte policromado.


Veit Stob, pormenor da parte central do Altar-Mor da Igreja de Maria, Cracóvia, c. 1477-89. Madeira poilicromada.


Michel Erhart, Madona do Manto Protector de Ravensburg, c. 1480-90. Madeira de tília pintada.


Retábulo da Cartuxa de Miraflores, e detalhe dos túmulos do Rei João II e de Isabel de Portugal, 1489-93. Burgos, Espanha.


Túmulo do Infante Afonso, 1489-93. Cartuxa de Miraflores, Burgos, Espanha.


BIBLIOGRAFIA (Textos, Transcrições e Imagens):

- "Gótico", Visual Encyclopedia of Art, Ed. Scala;
- "História da Arte", H. W. Janson, Fundação Calouste Gulbenkian;
"História da Cultura e das Artes - 11º Ano", Ana Lídia, Fernanda Meireles e Manuela Cernadas Cambotas, Porto Editora;
- "O Gótico: Arquitectura, Escultura e Pintura", Ed. Könemann.


Fonte: Um olhar sobre o mundo das artes

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