sábado, 20 de outubro de 2012

Arte e fé devem recordar-se que são irmãs

A partir de 3 de Novembro a Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja une-se ao Pontifício Conselho para a Cultura

Arte e fé, projectos humanos e acção do Espírito, mistério e sinal entrelaçaram-se e fundiram-se inseparabiliter na história: Ecclesiae historiam esse quoque inseparabiliter culturae et artium historiam («a história da Igreja é também, inseparavelmente, história da cultura e da arte») lê-se no motu proprio Pulchritudinis fidei com o qual a Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja será unificada com o Pontifício Conselho para a Cultura. Felice Casorati, "As duas irmãs" (1912) Aprovado a 30 de Julho passado por Bento XVI e publicado nas «Acta Apostolicae Sedis» de 3 de Agosto, o documento pontifício entrará em vigor a 3 de Novembro. Pedimos ao cardeal Gianfranco Ravasi que nos fale sobre os motivos e consequências desta fusão.

Portanto, a comissão tornar-se-á um departamento no âmbito do Pontifício Conselho para a Cultura?


Sim, como Fé e arte, o Pátio dos Gentios ou o que acabou de ser constituído dedicado ao Desporto. Também a Unesco, hoje protege a «cultura imaterial»; na base do novo conceito de cultura já não existe
a ideia setecentista de uma aristocracia intelectual, mas um conceito antropológico, a elaboração consciente de cada obra da criatividade humana; o arco das actividades não pode ser seleccionado por trechos, serve uma simbologia de conjunto. Entre as áreas de competência do departamento obviamente há também a colaboração com a Fundação para os Bens e as Actividades Artísticas da Igreja.

As prioridades na agenda?


Devemos realizar uma análise da aplicação dos documentos já publicados na Igreja universal sobre bibliotecas, inventários e catalogações, arquivos e museus. Um grande artífice, nisto, foi o cardeal Francesco Marchisano, e disto se ocupará de modo particular monsenhor Carlos Moreira Azevedo, delegado do Pontifício Conselho para a Cultura. Servem modelos concretos e orientações de método para oferecer elementos de gestão cultural, que permitam encontrar recursos financeiros, e para adaptar as orientações existentes a uma gradualidade realista e eficaz, segundo as possibilidades das diversas igrejas. Os exemplos disto poderiam ser muitíssimos: penso no caso de Arequipa no Peru, onde são conservados milhares de volumes provenientes das bibliotecas da ordem dos recolectos, ou no património livresco que corre o risco de dispersão em Salvador. São bens que são feridos inexoravelmente pelo ambiente climático e necessitam de rápidas intervenções de tutela. Nisto a informática pode ajudar-nos muito, a fim de tornar acessível a todos, por exemplo, os tesouros escondidos numa pequena paróquia isolada nos Andes. Depois da atenção à salvaguarda dos bens culturais devemos desenvolver a sua valorização e utilização ao serviço da nova evangelização e da dimensão estética no pensamento contemporâneo. É preciso evitar uma aproximação unicamente conservadora dos bens, é fundamental que haja uma fruição que gere prazer, que seja capaz de «encher os olhos» a quem está habituado a ver só fealdade, edifícios horríveis e imagens banais.
  
Silvia Guidi

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