sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Natal e anjos entre fé e arte

Uma reflexão sobre as figuras angélicas na sensibilidade artística

Bruno Brundisi
ROMA, (Zenit.org).

As festividades natalinas sempre garantem as costumeiras multidões festivas entre ruas caóticas e repletas de luzes; fazem reviver as tradições da nossa infância e os encontros de família; dão a todos nós a consciência existencial do ano que termina e do novo ano que está prestes a nascer. E representam, além disso, um período em que a normalidade parece parar, abrindo espaço para a reflexão sobre o sentido cristão do evento mais impactante da história humana.

Neste contexto, vale a pena fazer uma breve reflexão sobre o lugar das figuras angelicais na espiritualidade do natal: elas funcionam como intermediários entre o homem e Deus, num papel que, durante muito tempo, foi negligenciado e banalizado, mas que recentemente começou a ser reavaliado.

Os evangelhos de Mateus e Lucas nos mostram que a figura do anjo tem um papel fundamental nos eventos que antecedem e acompanham o nascimento de Jesus. Em Mateus, um anjo aparece a José, em sonho, e anuncia que Maria dará à luz um filho gerado pelo Espírito Santo. Em Lucas, o anjo Gabriel entra na casa de Maria e lhe diz: "Conceberás um filho e darás a ele o nome de Jesus". Mais tarde, nos evangelhos, o cenário real e concreto do natal é preenchido por anjos que convidam os pastores a irem à gruta de Belém. É a hora suprema da aventura humana e da sua salvação. É a hora em que Deus se encarna no homem e entra na sua história.

Estes seres espirituais, os anjos, como ensina a teologia, são as criaturas são mais próximas de Deus, seus mensageiros (a palavra anjo significa mensageiro), aqueles que, mais do que ninguém, conhecem a verdade da existência.

Os anjos continuam presentes na narrativa do evangelho: um anjo informa José da ira de Herodes contra todos os nascituros e lhe ordena fugir para o Egito, a fim de salvar Jesus. Depois, um anjo manda a família retornar do Egito e ir para Nazaré, na Galileia, tornando realidade as escrituras que dizem, sobre Jesus, que ele "será chamado nazareno". Anos depois, um anjo anunciará para as mulheres a ascensão de Jesus ao céu, e dois anjos explicarão aos seus discípulos o significado da ressurreição.

Esta narrativa profunda e emocionante do evangelho não poderia deixar de ter uma expressão na sensibilidade artística.

Bem cedo, já a partir do quarto século depois de Cristo, a arte figurativa começou a retratar o natal com imagens de anjos que não têm apenas um sentido decorativo, mas fortemente simbólico. A tendência é reforçada consideravelmente após o ano de 1300, com os mestres da pintura, em especial Giotto e Botticelli.

 No afresco Natividade, de Giotto (1303), realizado na Capela Scrovegni, em Pádua, os anjos celebram o evento posicionados acima do teto da manjedoura, enquanto, embaixo, Maria contempla a criança intensamente. Todas as figuras são projetadas sobre um único primeiro plano, ignorando-se qualquer hierarquia no tamanho dos indivíduos e na sua colocação em perspectiva.



Mas é com a Natividade Mística de Botticelli (1502), conservada na National Gallery de Londres, que vemos o verdadeiro triunfo das presenças angelicais dominando toda a cena. No teto, três anjos de forte expressividade simbólica, um vestido de branco (a fé), um de vermelho (a caridade) e um de verde (a esperança), seguram um livro aberto. Abaixo, outros três anjos abraçam três homens. As imagens de Maria, de José, do Menino, do burro, do boi e dos pastores se encontram com as figuras celestiais dos coros de anjos. Nesta assimetria de figuras humanas e espirituais, em suspensão mística entre o céu e a terra, percebemos a dimensão transcendente e o mistério do nascimento do Filho de Deus. A obra é cheia de concretude comunicativa, de verdadeira espiritualidade, de símbolos éticos e mensagens reconfortantes para cada um de nós.


Bento XVI nos lembrou, recentemente, que "Deus está sempre perto e ativo na história humana. Ele nos acompanha com a presença singular dos seus anjos. Desde o início até a morte, a vida humana é cercada pela sua presença constante".

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