quinta-feira, 24 de abril de 2014

Capela do Palácio da Ajuda reabre ao fim de um século com tela única de El Greco

Capela do Palácio da Ajuda reabre ao fim de um século com tela única de El GrecoIna Fassbender, Reuters

O único quadro de El Greco existente em Portugal vai estar exposto ao público, a partir da próxima semana, com a reabertura da capela da Rainha Maria Pia, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, encerrada desde 1910.

O óleo, do primeiro quartel do século XVII, a "Santa face de Cristo", de El Greco, passa a fazer parte do programa museológico da capela, que reabriu ao público na terça-feira, 103 anos depois de ter sido encerrada, após a proclamação da República, em outubro de 1910, e a saída da família real para Gibraltar.
A "Santa Face" foi adquirida pelo rei D. Luís, marido de D. Maria Pia, fazia parte da sua coleção de pintura e "é o único exemplar daquele pintor em Portugal", disse à Lusa o diretor do Palácio da Ajuda, José Alberto Ribeiro.

O projeto da capela, explicou José Alberto Ribeiro, visou "restaurar o espaço que é muito bonito, e mostrar nele algumas peças de referência da coleção do palácio, como pinturas importantes de mestres italianos dos séculos XVII e XVIII, escultura e alfaias religiosas" em prata.

Trata-se de "uma capela construída quase toda em madeira, num programa decorativo feito pelo arquiteto Manuel Ventura Terra, em finais do século XIX, com o pintor Veloso Salgado, autor da pintura de Nossa Senhora com o Menino, que é o orago".

Esta capela "é uma caixa em madeira de carvalho criada dentro de uma sala já existente no palácio, no piso térreo, à direita da entrada para o vestíbulo, na ala sul, e inclui alguns objetos criados pelo arquiteto, como as ferragens das portas e o sacrário, numa linha neomedieval e `arts & craft` de final do século [XIX], que é das últimas novidades e tendências estéticas aqui do palácio".

Isto revela, referiu o responsável à Lusa, o gosto da Rainha que era "muito atualizada" no tocante às correntes estéticas.

O espaço religioso mostra alguns santos da devoção da rainha Maria Pia, nomeadamente Santa Rita de Cássia, S. Francisco Xavier, S. Carlos Borromeo e a Virgem de Paris, ligada à "imagem milagrosa", e ainda o seu missal, em madrepérola, disse José Alberto Ribeiro.

"O corpo da capela, propriamente dita, seguiu as indicações documentais de 1910, a partir dos arrolamentos judiciais [da República] do que estava em cada divisão do palácio real e é muito fiel ao que seria no final da monarquia", disse o responsável.

"A antecâmara e a sacristia, com algum mobiliário original, foram musealizadas de forma a mostrar algumas peças de cariz religioso das coleções do palácio", acrescentou.

A recuperação da capela orçou entre os 70.000 e os 80.000 euros, tendo sido "fundamental" o apoio mecenático da Fundação Millenium/bcp, revelou José Alberto Ribeiro à Lusa.

Para o responsável, a reabertura da capela privada da rainha Maria Pia corresponde "às muitas questões que levantavam os visitantes do palácio - a única residência régia visitável, em Lisboa -, que se interrogavam por não haver um espaço religioso, num palácio de reis católicos".

Reabrir a capela é, para José Alberto Ribeiro, "devolver ao olhar do público um espaço desconhecido e que, desde 1910, servia de reserva das mais variadas peças".

O Palácio da Ajuda, imaginado pelo rei D. João VI, no Brasil, foi a residência oficial dos reis portugueses, tendo ficado fortemente ligado a D. Luís e à sua mulher, que o redecorou e nele viveu até partir para o exílio, onde morreu, em 1911, em Turim, na sua corte natal.

Fonte:  RTP

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