quarta-feira, 30 de abril de 2014

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência - Jóia do Barroco Brasileiro

Por Leonardo Ladeira

Os transeuntes que trafegam diariamente pelo Largo da Carioca muitas vezes desconhecem ali se encontra um verdadeiro tesouro: a Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, considerada a expressão máxima do barroco brasileiro.

rioecultura : Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência - Jóia do Barroco Brasileiro : Coluna Patrimônio Histórico

Segundo o historiador Mário Barata, a Igreja da Ordem Terceira é um “monumento insigne da cidade do Rio de Janeiro e do país”. Para ele, “poucas igrejas no Brasil têm a beleza e a importância daquela jóia”.

O templo localiza-se ao lado esquerdo da Igreja do Convento de Santo Antonio, sobre uma pequena elevação, na verdade o último resquício do já demolido Morro de Santo Antônio.

rioecultura : Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência - Jóia do Barroco Brasileiro : Coluna Patrimônio Histórico
Largo da Carioca, 1870

“Entre arranha-céus e avenidas, a massa branca e horizontal daquelas obras do século XVIII situa-se como um apelo à calma e à tranqüilidade, parcialmente isolada da mistura urbana (...)” , descreveu Mário Barata.

A CONSTRUÇÃO

A Ordem Terceira de São Francisco da Penitência foi instituída em 1619, sendo a primeira ordem deste tipo a surgir na cidade. A Ordem nasceu na antiga Capela da Conceição, contígua à Igreja de Santo Antonio, e foi fundada por Luís de Figueiredo e sua mulher. Muitos devotos aderiram à ordem e resolveram adquirir o terreno na qual se encontra o templo. Por meio de doações e quermesses, foram obtidos os recursos para a construção da igreja.

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Morro de Santo Antônio

Os trabalhos de construção da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência tiveram início na segunda metade do século XVIII e foram concluídos em 1773.

A FACHADA

A fachada da Igreja se manteve desprovida de exageros ornamentais e tem caráter horizontal, fato pouco comum no Brasil e único na cidade. Segundo a historiadora de arte Sandra Alvim, o “frontispício é compartimentado por quatro pilastras em cantaria arrematadas por pesados pináculos.

As pilastras são interligadas por cimalha interrompida pelo frontão de linhas curvas, com pequeno óculo. O corpo central é realçado pela portada principal, encimada por medalhão oval.

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As sobrevergas das portas laterais são mais simples que as das janelas do segundo pavimento”. A portada foi concebida em pedra de lioz. O frontão, apesar de alterado, manteve seu perfil recortado em curvas e contracurvas.

As três portas principais possuem portadas em mármore de lioz e as seis janelas apresentam grades antigas.

Segundo Mário Barata, a igreja não possui torre “devido à inicial interdição dos religiosos vizinhos e posterior acordo com eles”. Ainda segundo Barata, a igreja “sai do tipo habitual de Igreja no Brasil, inclusive por ser bem mais larga do que alta”.

A DECORAÇÃO

Em contraste com o despojamento da Igreja do Convento de Santo Antonio, e até mesmo com a singeleza de seu próprio frontispício, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco apresenta uma decoração barroca, inteiramente coberta por talha dourada. Trata-se de uma das mais importantes obras de decoração religiosa no país. Apesar de suas pequenas dimensões, o trabalho de decoração provoca um efeito arrebatador.

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A decoração foi realizada entre 1726 e 1743. A talha é de autoria de Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito, que introduziram no Rio o Barroco de Lisboa da época de D.João V. Portugal. A douração e a pintura são de Manuel da Costa Coelho.

A decoração foi feita em talha contínua. Os painéis pictóricos, a pintura em perspectiva (a primeira do país) e os fingidos de embutidos de mármore nas laterais da nave fazem contrapeso ao dourado da composição.

O PATRIMÔNIO ARTÍSTICO

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Quando visitar a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, não deixe de ver:

- Pintura do teto da nave (1737 / 40) - representando a apoteose de São Francisco (aut: Caetano da Costa Coelho. Considerada a primeira pintura em perspectiva do Brasil

- Talha (estilo barroco) - projeto de Manoel de Brito e execução de Xavier de Brito.

- Arco-Cruzeiro - aut: Xavier de Brito

- Capela do Santíssimo (séc.XVIII) - aut: Antonio de Pádua e Castro (lado esquerdo da nave)

- Retratos de d.Pedro II e d.Teresa Cristina (ante-sala que dá acesso à sacristia)

- Douração e pintura - aut: Manuel da Costa Coelho

- Tocheiros (dois) - de 1776

- Dragões (dois) - inspiração chinesa para sustentação dos lampadários

- Imagens (interior da nave) - Santa Rosa Viterbo, São Gonçalo do Amarante, São Vicente Ferrer (dir.); São Ivo, São Roque e Santa Isabel de Portugal (esq)

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- Altares-laterais (de Xavier de Brito) - São Luís dos Franceses, Santa Delfina e São Gualter; São Lúcio, Santa Bona e São Elisário

- Pintura do forro do coro - atribuída a Caetano da Costa Coelho

- Arco de talha (à entrada da antiga capela) - atribuído a Manuel de Brito Portada (1748)

- Embutidos de mármore nos degraus da capela-mor

- Altar-mor - talha: Manuel de Brito. Figura de Deus-Padre ladeado por serafins e anjos; Imagem de N.S.da Conceição (sobre o altar); Imagem de São Francisco de Assis (trono); Imagem do Cristo seráfico (trono)

- Sacristia - Pintura do teto (séc.XVIII) - autor desconhecido; Lavabo em mármore de lioz; Arcaz de jacarandá com puxadores de prata (1780)

- Capela de N.S.da Conceição (1622) - talha de Manuel de Brito e Xavier de Brito - Mausoléu de mármore branco de d.Pedro Carlos de Bourbon; Dossel ladeado por figuras da Fé e Esperança (atribuídas a Xavier de Brito); Vulto dos quatro evangelistas (volutas inferiores); Pintura de teto - imagem de N.S.da Conceição; Pinturas sobre madeira - episódios da vida da Virgem.

A RESTAURAÇÃO

Restaurada em 2002, com recursos do BNDES, a Igreja voltou a ser uns dos cartões postais do Rio de Janeiro.

Um investimento da ordem de 3,5 milhões de reais feito pelo BNDES, através da Lei Rouanet possibilitou o trabalho de recuperação da igreja, que foi executado em 28 meses por 120 profissionais, de arquitetos a pintores.

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Munidos de bisturis cirúrgicos, espátulas de dentistas, lixas e solventes, os restauradores retiraram crostas de sujeira, camadas recentes de tinta, além de executar projetos de instalação de iluminação, segurança, pesquisa e museografia.

Para que a igreja fosse preservada, o tratamento de descupinização abrangeu não só a área do morro de Santo Antônio, mas boa parte do Largo da Carioca. As imagens foram submetidas à análise por tomografia computadorizada visando sua preservação, a verificação de seu estado interior e a descoberta de sua pintura original escondida sob inúmeras camadas de tinta. Na Nossa Senhora da Conceição que fica no altar-mor, por exemplo, descobriu-se, sob um inexpressivo manto azul, um precioso brocado esculpido, com detalhes em ouro.

Por Leo Ladeira

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>> SERVIÇO <<
Largo da Carioca, 5 - Centro
Tel. 21 2262-0197.
Horário de visitação: de segunda à sexta-feira, das nove ao meio-dia e de uma às quatro da tarde.
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Fontes de Referência:
- Igreja da Ordem 3ª da Penitência do Rio de Janeiro. Mário Barata. Livraria Agir Editora. 1975.
- Arquitetura religiosa colonial no Rio de Janeiro. Sandra Alvim. UFRJ-IPHAN, 1996.
- Arte no Brasil. Nova Cultural. 1982.
- Guia dos Bens Tombados. Coordenação: Maria Elisa Carrazzoni.
- Expressão & Cultura. 1987.
- Guia Michelin – Rio de Janeiro. 1997.
- Veja-Rio.
- Site do BNDES.

Fotos:
- Blog Foi um Rio que Passou
- Blog Casamento Prático
- Fotos recentes do interior da Igreja: Leo Ladeira e Alexandre Siqueira


Fonte: Rio e Cultura

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