segunda-feira, 14 de abril de 2014

Patrocínio da Petrobras à restauração de igreja na Bahia gera perda de R$ 4,2 milhões

Além disso, há indícios de tráfico de influência na escolha da entidade beneficiada, aponta auditoria.
Gastos em restauração de igreja deram prejuízo.
Gastos em restauração de igreja deram prejuízo.

Um patrocínio cultural da Petrobras para a restauração de um convento e uma igreja na Bahia teve dano ao erário de R$ 4,2 milhões e tráfico de influência na escolha da entidade beneficiada, aponta auditoria da CGU (Controladoria-Geral da União). As obras do convento e da igreja de Santo Antônio de Cairu, no município de Cairu (294 km de Salvador), até hoje estão inacabadas. Segundo a CGU, isso contraria os relatórios técnicos da Petrobras, que contabilizam a realização de 100% das obras previstas no orçamento, enquanto a controladoria detectou, por amostragem, que 26% dos serviços previstos não foram executados.

Os repasses foram feitos entre 2005 e 2009, época da gestão do ex-presidente José Sérgio Gabrielli. O patrocínio cultural teve contratos assinados por Wilson Santarosa, gerente de comunicação da Petrobras. Por meio do patrocínio cultural, a Petrobras destinou R$ 7,6 milhões à ONG Grupo Ecológico Humanista Papamel, que subcontratou uma empresa recém-criada, a Patrimoni, para a qual repassou a maior parte dos recursos. Nem a Papamel nem a Patrimoni possuíam experiência em restauração de patrimônio histórico, diz a CGU. “Pela data de abertura da empresa Patrimoni, já se percebe que ela foi deliberadamente constituída para executar as obras de restauro do convento franciscano e da igreja de Santo Antônio de Cairu”, afirma o relatório.

Pelos serviços previstos e não executados, a CGU contabilizou um prejuízo de R$ 1,7 milhão. Também foi registrado no relatório outro prejuízo de R$ 2,5 milhões por saques dos recursos repassados pela Petrobras sem a comprovação documental que justificasse a retirada e aplicação dos recursos. Por último, o relatório divulga e-mails trocados entre as partes envolvidas e aponta acesso a “informações privilegiadas” da Petrobras por parte do responsável pela Patrimoni, o engenheiro Manuel Telles. Segundo a CGU, a escolha da ONG “não atendeu ao interesse público, caracterizando claramente o direcionamento na seleção da entidade proponente”. Outro lado Procurada, a Petrobras afirmou que “as obras relativas aos contratos de patrocínio foram realizadas”, apesar de admitir que a restauração ficou inacabada “devido à ocorrência de diversos imprevistos, como, por exemplo, a descoberta de sítios arqueológicos”.

A empresa afirma ainda que só repassava recursos após a comprovação do cumprimento da etapa anterior e que não escolheu a ONG Papamel, mas foi a entidade que apresentou projeto à Petrobras. Sobre a relação com Manuel Telles, a Petrobras disse que os e-mails trocados referem-se a questões administrativas anteriores à celebração do contrato e que a troca de e-mails é “comum” com proponentes de projetos para patrocínio. O então responsável pela Papamel na época, José Renato Santana Souza, e Manuel Telles, da Patrimoni, dizem que a obra ficou inacabada porque imprevistos aumentaram o orçamento inicial e que seriam necessários aditivos. Telles disse não ter nenhuma relação com integrantes da Petrobras. O Ministério da Cultura, responsável pela fiscalização, disse que reprovou o projeto, no último dia 26, por não ter recebido a prestação de contas, e que pedirá a devolução dos valores ao erário.

Fonte: Correio – Bahia

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