domingo, 24 de agosto de 2014

Barro, tinta, mãos firmes e fé


Magela Borbagatto, um dos estudiosos das Paulistinhas. Foto: Arquivo Pessoal
Magela Borbagatto, um dos estudiosos das Paulistinhas. Foto: Arquivo Pessoal


Confeccionadas artesanalmente e de forma caseira, as chamadas ‘Paulistinhas’ são a principal manifestação de fé popular do Vale
Paula Maria PradoSão José dos Campos
Longe dos altares das Igrejas Católicas e dos oratórios dos barões do café, eram as imagens de santos produzidas em barro e pintadas à mão, de forma bem caseira, que configuravam uma das principais manifestações da fé popular no Vale do Paraíba.
As chamadas Paulistinhas eram produzidas no século 18 e representavam os santos de maior devoção popular. Oficialmente, elas pararam de ser feitas por volta de 1910, quando imagens confeccionadas em gesso -- produzidas em série e mais bonitas -- tomaram conta dos altares.
Na verdade, pouco se sabe sobre os primórdios das Paulistinhas. Acredita-se que foram criadas inspiradas na arte popular vinda de Portugal.
Seus primeiros produtores podem ter sido os beneditinos de Mogi das Cruzes ou os franciscanos de Taubaté.
De qualquer forma, se tornam comum em quase todas as casas simples do Vale do Paraíba.

Com um ‘quê’ barroco e de uma simplicidade ímpar, as Paulistinhas são encontradas atualmente apenas em museus e nas mãos de colecionadores.
“Dificilmente famílias antigas ainda têm em casa as Paulistinhas. Quando surgiram imagens de santo mais bonitas, aquelas que eram feitas de barro foram jogadas fora, quebradas, lançadas em água corrente ou em deixadas na Santa Cruz”, lamenta Magela Borbagatto, mestre em Cultura Popular Brasileira que, há 30 anos, estuda essas imagens.
Santo Antônio, São Benedito e Nossa Senhora da Conceição foram os santos mais reproduzidos. “Eram os santos de maior devoção na época”, diz o especialista.

Marginal. Segundo Borbagatto, esta pode ser considerada uma arte sacra marginal. “Ela não era reconhecida oficialmente pela comunidade religiosa católica. Era uma representação de fé de pessoas comuns. As imagens eram feitas pelo povo para o povo”, disse.
Aqueles que eram mais abastados tinham em seu altares santos talhados em madeira.
“A preservação dessa história se deve ao pesquisador Eduardo Etzel, que nos deixou um material significativo sobre o tema. Trata-se de algo tão perto de nós em termos de tempo e espaço, que é curioso não termos mais materiais sobre o assunto”, disse.
As Paulistinhas são, definitivamente, uma arte genuinamente valeparaibana.
“É a maior demonstração de fé e devoção do nosso povo, que hoje conta ainda com o Santuário Nacional, em Aparecida”, afirmou ele.
Fonte: O VALE

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