quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O fio da meada

O conjunto setecentista, as pinturas e os entalhes de madeira fazem, das igrejas do Carmo, nosso maior tesouro. / Fotos: Arquivo Pessoal



Como se puxasse o fio de uma meada, Danielle Manoel dos Santos Pereira, jovem pesquisadora dedicada à História da Arte publicou, pela Universidade Estadual Paulista, um primoroso estudo sobre a origem das pinturas de teto da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em Mogi das Cruzes.
É um delicioso passeio pelos primórdios do que foi Mogi das Cruzes, tudo a partir da análise que ela faz sobre as pinturas sacras, existentes em igrejas de Diamantina e Serro (Minas Gerais) e em Mogi.
Atesta ela que as igrejas do Carmo, aqui, “fazem parte de um conjunto amplo, são interligadas por um corredor interno e compartilham na fachada, sem divisões arquitetônicas, da mesma torre sineira. A Igreja da Ordem Terceira, objeto desse estudo, foi construída por volta do ano de 1698, onde estava localizado o antigo jazigo da Ordem Primeira”.
E começa então o passeio: “Enquanto a construção da Ordem 3ª não ocorria, os terceiros prestavam sua devoção à Nossa Senhora do Carmo em um dos altares laterais da Ordem Primeira. A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo em Mogi das Cruzes é caso excepcional na história da arte colonial paulista, em razão das belíssimas pinturas existentes; a construção abriga três trabalhos de grande valor pictórico, localizados no forro da nave, no forro da capela-mor e no forro do vestíbulo da sacristia. A excepcionalidade destas obras deve-se ao fato de não haver, na pintura colonial paulista, trabalhos similares a estes, sobretudo as pinturas do forro da nave e da capela-mor”.
Seu texto, que busca similaridade entre Mogi e as mineiras Diamantina e Serro, conclui que “as pinturas carmelitas de Mogi das Cruzes possuem, visualmente, uma relação muito intensa com as obras mineiras, o que indica as trocas artísticas ocorridas entre os pintores”.
Seguiu então Danielle a buscar fontes históricas: “Dessa pintura que se revela aos poucos ao espectador, o antigo prior da Ordem Terceira, Francisco Pinheiro Franco (1904), nos informa ter sido pintada por Lourenço da Costa em razão das festividades do Jubileu de Santa Tereza, que ocorreriam na igreja (período em que a Ordem Terceira servia de sede à Ordem Primeira durante sua reforma). Sendo assim, os terceiros e os padres reuniram-se para garantir que fosse uma festividade como a população jamais vira; assim sendo, ornam o templo e encomendam também a pintura do forro da capela-mor”.
Vinculando a informação do prior com dados coletados nos arquivos dos carmelitas, a pesquisadora concluiu que o forro da capela pertencia, originalmente, à Ordem 1ª e foi transferido em 1807. Na sua avaliação, as pintu7ras datam de 1802 a 1815. Enquanto as de Diamantina, com as quais busca similaridade, são de 1766 a 1801.
Ela também credita a Manoel do Sacramento as pinturas da Ordem 3ª de Mogi, “influenciado por pintores do meio-norte mineiro”.
“A comparação empreendida demonstra que pode ter havido influência dos mineiros sobre os pintores que executaram as obras em Mogi das Cruzes, porém não é possível asseverar em que medida essa troca tenha ocorrido pois, como fora exposto, não há o conhecimento de nenhum outro trabalho de ambos os pintores”
Danielle inclui em sua dissertação em resumo acerca da formação de Mogi:
“O ano de 1560 é aceito por inúmeros pesquisadores como data provável em que Braz Cubas teria pisado pela primeira vez o solo mogiano e aí estabelecido pouso e, em 1561, teria fundado uma fazenda (espécie de acampamento), que mais tarde seria um arraial. Os estudiosos Emílio A. Ferreira, em ‘Mogy das Cruzes: dados históricos e notas diversas’, e Dom Duarte Leopoldo e Silva, em ‘Notas de história eclesiástica’, afiançam a proximidade do ano de 1560 com a primeira bandeira a penetrar Mogi das Cruzes, sendo essa data recorrente na maioria dos estudos existentes sobre sua fundação. Assim como o restante do território brasileiro, Mogi das Cruzes também era habitada pelos indígenas, que foram, aos poucos, sendo expulsos de suas aldeias e dizimados. Dentre as bandeiras que aí chegaram, está a de Domingos Luís Grou, que esteve em Mogi nos anos de 1590 a 1593, com o objetivo de expulsar e apresar os índios que aí vivam. Inúmeras expedições com esse mesmo fim seriam realizadas até meados de 1607. Em 1608, foi concedida a Gaspar Vaz uma sesmaria no povoamento de Mogi. Em 8 de abril de 1611 há uma petição dos moradores para elevar o povoado de Mogi a vila. E, em 1º de setembro de 1611, obteve-se a permissão para a elevação”.
N. do E. – A íntegra do texto está disponível em:



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