quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Moradores e iniciativa privada se unem para restaurar igreja em Biribiri

Associação de moradores e empresa proprietária de igreja construída em 1876 em Biribiri se unem para restaurar a relíquia arquitetônica do Jequitinhonha, fechada há mais de 20 anos



Com características dos estilos rococó e eclético, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus começa a ser restaurada hoje com escoramento emergencial
Fechada há quase 20 anos por causa do risco de desabamento, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Biribiri, um bucólico povoado de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, enfim será restaurada. O templo, erguido em 1876 e cercado por palmeiras imperiais, é tido como uma relíquia da arquitetura no Brasil, com características dos estilos rococó e eclético.

A obra será feita em duas fases. A primeira, de cunho emergencial, começa hoje, quando ocorrerá o escoramento interno da estrutura. Até o fim do ano, o telhado será reconstruído e intervenções no solo e subsolo vão eliminar o risco de infiltração, a principal causa do risco de desabamento. “Drenagens vão conter o curso d’água superficial e o profundo”, explicou Soraia Aparecida Martins Farias, diretora de Conservação e restauração do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

Essa fase está prevista para ser concluída no fim de 2015 e foi orçada em R$ 200 mil. O investimento será bancado pela Associação dos Moradores da Vila de Biribiri e pela Estamparia S.A., a empresa de tecidos proprietária do templo e de mais duas das 33 construções do povoado. “A igreja precisa urgentemente de intervenções. Há poucos dias, um pedaço do telhado caiu”, alertou o presidente da associação, Juscelino Brasiliano Roque, que nasceu no dia da inauguração de Brasília e cujo nome homenageia Juscelino Kubitschek (1902-1976), natural de Diamantina, e o próprio Brasil.
Anteontem, o xará do ex-presidente da República se reuniu com a diretora do Iepha e representantes da Estamparia. A segunda fase da obra está prevista para começar no primeiro trimestre de 2016, mas sua conclusão está condicionada a recurso em caixa. O valor ainda não foi calculado. A expectativa é que seja concluída em até 18 meses após o início das intervenções.

O projeto arquitetônico é de autoria da arquiteta e urbanista Rafaele Bogatzky. Toda a obra precisa ser supervisionada pelo Iepha, pois o conjunto arquitetônico do lugarejo é tombado pelo órgão desde 1998. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também deve acompanhar os procedimentos.

O acervo do templo – imagens sacras, castiçais, bancos, documentos e um órgão – foram levados para Diamantina, onde ficarão durante a restauração. Já o sino, construído em 1888, e o relógio, doado pela família real no fim do século 18, continuam na fachada da construção.

Entre a porta principal e o cercado que protege o templo, o único túmulo do lugarejo. Nele, encontra-se sepultado o corpo do senador Joaquim Felício dos Santos (1822-1895), um dos autores do Código Civil que vigorou até 2003. Ele foi um dos fundadores da vila.

ORIGEM A história da Sagrado Coração de Jesus, construída com “as melhores pedras do solo de Diamantina”, como muita gente faz questão de ressaltar, confunde-se com a de Biribiri, cujo nome em tupi-guarani é buraco fundo. A vila, a 12 quilômetros do Centro Histórico de Diamantina e a 300 de Belo Horizonte, foi construída para abrigar uma fábrica de tecidos e seus funcionários.

O local contava com moradias, escola, armazém, barbearia etc. No augue da produção, mais de 1 mil pessoas trabalharam no lugar. Havia até imigrantes, que manuseavam alguns dos mais de 100 teares movidohs pela energia elétrica produzida numa usina construída no próprio povoado.

O alto custo da linha de montagem e o da distribuição, porém, inviabilizaram as atividades na fábrica em 1973. As famílias migraram para outras bandas em razão da falta de emprego. No início dessa década, por exemplo, apenas quatro pessoas residiam no lugarejo: dois caseiros e a mulher e a filha de um deles.

Os quatro cuidavam do Mequetrefe, um vira-lata que apareceu por lá. Naquela época, Biribiri era carinhosamente lembrada como “cidade-fantasma”. Em 2013, a Estamparia decidiu negociar os 33 imóveis, devido ao alto custo de manutenção da vila. Apenas a igreja, a casa que servia de abrigo para a família do gerente da fábrica e o galpão dela não foram negociados.

Um dos compradores foi Juscelino, o presidente da associação dos moradores: “Celebrações religiosas voltarão a ocorrer na igreja”. O templo continuará em sua cor original, branca. Aliás, uma das regras no lugarejo é preservar a fachada e a cor original das construções, que têm portas e janelas azuis.

O local desperta com frequência a atenção de escritores e produtores culturais. Lá foram gravados os filmes Dança dos bonecos, de Helvécio Raton; Xica da Silva, de Cacá Diegues; e A hora e a vez de Augusto Matraga, de Vinícius Coimbra. Na tevê, cenas da novela Irmãos coragem.

O lugarejo também foi homenageado pela literatura. Em 1893, a então adolescente Helena Caldeira Brant escreveu em seu diário que “não teria pressa de ir para o céu se morasse em Biribiri”. Quase cinco décadas depois, sob o pseudônimo de Helena Morley, ela transformou suas lembranças de juventude no best-seller Minha vida de menina.

O NOVO PERFIL DO POVOADO Biribiri surgiu para sediar uma fábrica de tecidos e ao mesmo tempo garantir emprego para moças carentes do Vale do Jequitinhonha. Depois de rotulada carinhosamente de cidade- fantasma, o lugarejo atrai recursos. Os novos proprietários dos imóveis do local dão uma guinada na economia de lá. Biribiri agora tem pousada e dois restaurantes. Daqui a alguns meses, ganhará um hotel, uma loja, uma vinícola e um museu.

Fonte: EM

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